Ainda os poderosos devem saber que em sua sombra, mais perigoso que a inveja, o ressentimento daqueles mesmos que vivem de seu favor. Gregor...
Ainda os poderosos devem saber que em sua sombra, mais
perigoso que a inveja, o ressentimento daqueles mesmos que vivem de seu favor.
Gregorio Marañón
Cresci em uma comunidade onde
serviço mal feito era “serviço de negro”. Mulher que não era submissa ao homem
era “puta”. Homem podia amar ou fazer sexo fora do casamento. Mas não a mulher,
pois o lugar dela era na cozinha.
Não lembro que idade eu tinha
quando segurei uma arma pela primeira vez, mas com certeza eu mal aguentava o
peso do equipamento. Eu tinha uns 10 anos quando aprendi a atirar. Andar armado
fazia parte da etiqueta de um macho de verdade.
Nesse mundo idealizado - que
prospera até hoje -, macho de verdade não chora. O único medo que tira o sono
desse tipo é ser “traído” ou sentir afeto por outro homem.
Por isso, invariavelmente, um
menino submetido a esse tipo de criação se torna uma pessoa afetivamente
violenta. Precisa matar, a qualquer preço, a afetividade em si, talvez o
feminino em si. Para isso, subjuga a mulher à condição de coisa e foge do falo
alheio como o diabo foge da cruz.
Ainda existe, em muitos lugares,
essa visão de mundo racista, misógina e brutalmente violenta com as relações de
gênero.
Na parte que me toca, o que me
salvou, eu acho, foi o fato de que eu não sabia jogar bola. Nem como goleiro me
queriam. Então, meu tempo era com as meninas da escola.
Com elas, aprendi a ser amoroso,
gentil e a ter afeto pelo outro, independente de gênero, raça ou classe
social. Humanizei o macho violento, homofóbico e misógino no qual tentaram me
transformar.
As mulheres me ensinaram a
sentir. Aprendi a amar e a chorar. Amor platônico, amor aristotélico, amor de
Cristo. Aprendi muito cedo todas as formas de amar, inclusive a compaixão.
Aprendi a força do perdão. Como nenhum cenário é perfeito, confesso que só
entendi tudo isso depois de anos e anos de terapia.
O bolsominion que não ama
Conheço o espírito de um
bolsominion que não sabe amar, desde antes de inventarem o bolsonarismo. O
bolsominion que não sabe amar é herdeiro da herança formadora do patronato
brasileiro, no qual o público é exercido como se fosse privado, em defesa dos
interesses de poucos, “a elite”.
O bolsominion que não sabe amar
faz carreata pela volta da “normalidade”, que de fato é uma normatividade onde
cadáveres podem ser empilhados em nome da preservação das coisas como devem
ser: o patronato se apropriando da vida dos mais vulneráveis, tendo à frente os
operários assalariados e informais.
O bolsominion que não sabe amar
vai às ruas em nome do patrimonialismo típico de um Estado absolutista, onde
Bolsonaro, o monarca, o mito, exercerá o poder em nome deles e para eles.
É uma bad trip digna de
viagens altamente alucinadas. Alguém precisa avisá-los que o monarca não ama
mais ninguém, apenas a si mesmo e à própria dinastia.
Vida longa aos que estão em
quarentena, pelo outro, por si e pelo Brasil.
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