A estátua em homenagem ao bandeirante Manuel de Borba Gato (1649-1718), um dos monumentos mais tradicionais e controversos da cidade de Sã...
A
estátua em homenagem ao bandeirante Manuel de Borba Gato (1649-1718),
um dos monumentos mais tradicionais e controversos da cidade de São Paulo, foi
incendiada na tarde deste sábado, 24. Um grupo denominado Revolução Periférica
assumiu a autoria do ato e publicou nas redes sociais imagens do ataque.
Diversos jovens mascarados de preto jogando pneus e em seguido líquido
inflamável e colocando fogo. As labaredas subiram rapidamente, assim como a
fumaça preta no bairro de Santo Amaro, zona sul da cidade.
Inaugurada
em 1963, a estátua é alvo de críticas pelo papel de Borba Gato no avanço
colonizador ao interior do país na época da mineração, tomando terras e
escravizando indígenas e negros. A estátua tem 13 metros de altura e levou seis
anos para ficar pronta. A obra do escultor Julio Guerra (1912- 2001) já havia
sido pichada em 2016, junto com o Monumento às Bandeiras, outro símbolo da
exploração colonial brasileira na cidade. Diversos grupos pedem a derrubada da
estátua, em um movimento que ganhou força no ano passado após decapitações
e demolições de símbolos escravagistas nos Estados Unidos impulsionadas
pela onda de protestos antirracistas gerada pela morte de George Floyd.
“Borba
Gato, bandeirante, foi um escravocrata responsável pela morte de povos
indígenas durante a interiorização do território brasileiro. Hoje, a estátua
Borba Gato, situada no bairro de nome homônimo, no distrito de Santo Amaro,
presta homenagem à sua biografia genocida”, descreve uma das petições on-line
direcionadas à Secretaria Municipal de Cultura cobrando a retirada da estátua.
“Nós, Guarani das aldeias de São Paulo, nos sentimos humilhados todas as vezes
que passamos ao lado dessa estátua. Borba Gato foi um assassino de povos
indígenas e não pode ser considerado um herói”, argumenta outro
abaixo-assinado.
Nas
redes sociais, o grupo Revolução Periférica também aparece colando cartazes em
pontos da cidade com a pergunta: “Você sabe quem foi Borba Gato?”
A
Polícia Civil informou que prendeu na madrugada desde domingo um dos suspeitos,
ao identificar o motorista do caminhão que conduziu parte do grupo até local e
transportou os pneus. Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado, a
placa do veículo foi adulterada, e as investigações prosseguem para identificar
e localizar os demais envolvidos.
A
figura dos bandeirantes como símbolo paulista ganhou força na época da
Revolução de 1932, quando os governantes precisava de argumentos para unir a
população em torno de um sentimento comum. Assim, o bandeirante começou a ser
retratado como um herói, em detrimento da história dos mais de 300.000 índios
capturados e escravizados pelas bandeiras.
“A
simbologia dessas homenagens tem valor e mesmo que ela não seja tão
representativa como foi no passado, ainda fortalece a lembrança. Não faz
sentido ter esses símbolos. Eles deveriam ser derrubados”, afirmou o professor
Jurandir Augusto Martim, índio guarani.
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